O que a sociedade não vê, a vítima não sente.
Silêncio.
Era um hora da manhã. Mas o que ela fazia na rua a essa hora?
Ela estava com um rapaz. Quem era ele? Era namorado dela?
Ela dormiu.
Acordou.
O que houve? Aonde ela estava? Quem eram aqueles trinta homens?
Dezesseis anos e já com tantas cicatrizes da vida. Cicatrizes essas
traumatizantes e violentas.
Ela envergonhou-se. Demorou para procurar a polícia.
Ninguém sabe quem é ela, só se sabe que é um símbolo de uma luta. Uma
luta travada todos os dias, por todas as mulheres. O medo de sair na rua é
enorme. Pois independente da sua religião, cor de pele, classe social, roupa,
horário... Nada justifica tal ato.
Roubaram a sua dignidade. A expuseram ao ridículo. Seres sem escrúpulo.
Silêncio.
Não! Gritem! Isso tem que parar!
Não foi só uma garota anônima. Foram todas nós. Todas que somos julgadas
por um simples fato: somos mulheres.
Isso tem que parar!
A punição nunca é o suficiente. Sempre há milhões de recursos. E sempre
há pessoas apoiando o retrocesso no Governo. Você sabia que corre pelo Congresso
brasileiro um projeto de lei que proíbe o aborto de vítimas do estupro?
Isso tem que parar!
Não tem que haver só a comoção popular durante uma semana e esquecermos
o que houve, deixar isso cair no arquivamento da nossa memória e deixarmos isso
para lá. Aquela menina pode não ser sua conhecida ou da sua cidade, mas tudo
isso aconteceu com ela por ela ser mulher. Então não ache que você está longe
dessa realidade, pois não está.
Esse tipo de assunto tem que parar de ser tratado como tabu, pois não é
mais. Está escancarado na nossa frente e ainda há pessoas que insistem em
simplesmente ignorar e não ver. É triste, porém é a realidade e tem que ser
mudada.
Chega! Isso tem que parar!
Texto de Ana França Teixeira